A peso meio-médio Imane Khelif, da Argélia, uma das duas boxeadoras envolvidas em uma polêmica sobre gênero na Olimpíada de Paris-2024, vai disputar a final nesta sexta-feira (9/8).
Além dela, Lin Yu-ting, de Taiwan, também está final em sua categoria, peso-pena. A disputa ocorre no sábado (10/8).
Ambas foram autorizadas a competir nos Jogos Olímpicos, apesar de terem sido desqualificadas do Campeonato Mundial do ano passado por não atenderem aos requisitos de elegibilidade de gênero.
A final de Khelif será contra a chinesa Yang Liu, enquanto Lin enfrentará a polonesa Julia Szeremeta.
A luta terminou em 46 segundos após o abandono por parte de Carini, com críticas ao Comitê Olímpico Internacional (COI) por permitir a inscrição de uma boxeadora que antes foi considerada incapaz de atender aos critérios de elegibilidade de gênero.
Carini disse que encerrou a luta para “preservar sua vida”, mas depois pediu desculpas à oponente argelina por não apertar sua mão ao fim da luta.
“Sinto muito pela minha adversária também. Se o COI disse que ela pode lutar, eu respeito essa decisão”, afirmou Carini.
Carini lamentou não ter cumprimentado Khelif depois da luta.
“Não era algo que eu pretendia fazer”, disse Carini. “Na verdade, quero pedir desculpas a ela e a todos os outros. Fiquei com raiva porque minhas Olimpíadas viraram fumaça.”
Ela acrescentou que, se encontrasse Khelif novamente, a “abraçaria”.
Já Khelif, após sua vitória, disse: “Estou aqui pelo ouro — luto com todo mundo.”
A Associação Internacional de Boxe (IBA), que antes foi a organizadora do boxe olímpico, tem feito críticas à decisão do COI de permitir que as duas atletas competissem.
A seguir, a BBC esclarece algumas questões sobre o assunto.
exames indicam que elas são homens, destacando a desigualdade que isso representaria no esporte.
“O boxe feminino está sendo morto e eu não quero que isso aconteça. O esporte feminino está sendo destruído. Não podemos permitir isso”, disse Kremlev.
“Os resultados dos exames mostram que elas são homens. Se pessoas têm dúvidas se nasceram assim ou mudaram algo depois na vida delas, vocês podem perguntar para elas. O teste mostra que o nível de testosterona nelas duas é muito alto. Seria uma situação desigual, acrescentou ele, nos minutos finais da entrevista.
O secretário-geral e CEO da IBA, Chris Roberts, disse que antes do Mundial de 2022, boxeadoras, técnicos e médicos expressaram preocupações sobre as atletas Khelif e Lin.
Segundo ele, no Mundial de Istambul de 2022, um “teste de gênero” foi realizado com exame de sangue, mas os resultados foram considerados “inconsistentes” pelo CEO.
Em 2023, acrescentou Roberts, elas foram submetidas a um novo exame de sangue, que, segundo o dirigente, revelou cromossomos que as tornaram inelegíveis, conforme as regras, embora esses resultados não tenham sido divulgados.
Segundo o médico Ioannis Filippatos, quatro boxeadoras foram testadas no Mundial de 2022, e apenas Khelif e Yu-ting apresentaram resultados inconclusivos, sendo testadas novamente em 2023.
Roberts afirmou que, devido ao sigilo médico, não podem divulgar os resultados dos exames, mas sugeriu aos jornalistas que “leiam nas entrelinhas”.
Filippatos, sem apresentar provas, destacou: “Ela não é mulher. Não podemos dizer tudo porque é sigilo médico. Não posso dizer a você se ela nasceu mulher. Eu não estava no hospital quando ela nasceu. Eu tento dizer que o exame de sangue, nos laboratórios, diz que essa boxeadora é homem”.
O COI levantou dúvidas sobre a precisão dos testes.
“Não sabemos qual era o protocolo, não sabemos se o teste foi preciso, não sabemos se devemos acreditar no teste”, disse o porta-voz do COI.
“Há uma diferença entre um teste ser realizado e aceitarmos a precisão ou mesmo o protocolo do teste”.
4 – O que mudou na regulamentação e governança do boxe olímpico desde a decisão da IBA?
Ao contrário dos Jogos anteriores, o boxe nas Olimpíadas de Tóquio foi organizado pelo COI, e não pela IBA.
O COI suspendeu a IBA em 2019 devido a preocupações com suas finanças, governança, ética, arbitragem e julgamento.
Por não ter cumprido as reformas exigidas estabelecidas pelo COI, a IBA foi destituída de seu status como órgão regulador mundial do esporte em 2023.
Essa decisão foi mantida em abril de 2024 pelo Tribunal Arbitral do Esporte após um recurso.
A decisão do COI de destituir a IBA de seu status ocorreu quatro meses após o órgão desqualificar Khelif e Lin Yu-ting do Campeonato Mundial de 2023.
Em 2021, o COI lançou uma campanha sobre “Justiça, Inclusão e Não Discriminação com Base na Identidade de Gênero e Variações Sexuais”.
O documento estabelece dez princípios — não regras — para os órgãos nacionais seguirem ao selecionar atletas para os Jogos.
O COI disse que “apoia a participação de qualquer atleta que tenha se qualificado e cumprido os critérios de elegibilidade para competir nos Jogos Olímpicos, conforme estabelecido por sua IF [Federação Internacional]. O COI não discriminará um atleta que tenha se qualificado por meio de sua IF, com base em sua identidade de gênero e/ou características sexuais”.
5 – Quais testes são realizados no boxe?
Em 2019, o COI delegou a responsabilidade pela organização e gestão do controle de doping nas Olimpíadas à Agência Internacional de Testes (ITA).
O COI disse que adotou uma “política de tolerância zero” para qualquer pessoa encontrada usando ou fornecendo produtos de doping.
Os testes incluem determinar os níveis de testosterona de um atleta, mas não se reduzem a isso.
O que as pessoas têm dito
“É importante poder competir em igualdade de condições e, do meu ponto de vista, não foi uma disputa equilibrada”, – Primeira-ministra italiana Giorgia Meloni.
“Acho que isso prejudicou o boxe olímpico em um momento crucial em que seu futuro ainda está sendo discutido. É um desastre absoluto”, Steve Bunce, comentarista do 5 Live
“Se você tem um boxeador que supera em muito a força de outro com base em critérios de elegibilidade e testes, isso sugere que essa pessoa não é adequada para estar na categoria feminina da competição”, Chris Roberts, CEO da IBA
“Eu recomendaria que tentássemos tirar a guerra cultural disso e realmente abordássemos as questões e as pessoas e pensássemos sobre as pessoas envolvidas e o dano real que está sendo causado pela desinformação”, Mark Adams, porta-voz do COI.
“Foi uma exibição incrivelmente desconfortável pelos 46 segundos que durou e sei que há muita preocupação em relação às competidoras sobre se estamos encontrando o equilíbrio certo não apenas no boxe, mas também em outros esportes”, disse Lisa Nandy, Secretária de Estado da Cultura, Mídia e Esporte do Reino Unido.
BBC Brasil