A ofensiva patética da extrema direita brasileira contra pessoas que celebraram a morte do extremista estadunidense Charlie Kirk e críticos do governo de Donald Trump, liderada pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), agora tem um novo alvo: o ator Wagner Moura.
Artista consagrado em Hollywood, Moura, que está vivendo nos EUA, entrou na mira dos bolsonaristas após afirmar, em entrevista, que “americanos invejam Brasil por julgar Bolsonaro e golpistas”.
“A gente está hoje vendo as instituições funcionando [no Brasil], vendo um crime contra a democracia sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal, enquanto que nos festivais norte-americanos pelos quais o filme passou, a gente sentia uma certa tristeza dos americanos, quase uma inveja”, disse o ator à BBC.
A entrevista foi publicada neste domingo (14), em meio à intensificação da ofensiva bolsonarista. Parlamentares de extrema direita têm promovido doxxing – prática de expor informações pessoais de alguém na internet sem consentimento, geralmente para intimidação ou ataque. – contra pessoas que ironizaram a morte de Charlie Kirk, visando causar suas demissões, e avançaram com pedidos para que o governo dos Estados Unidos cancelem vistos de entrada de personalidades brasileiras críticas a Donald Trump. Entre os alvos estão os empresários e influenciadores Felipe Neto e Casimiro Miguel.
No caso de Wagner Moura, a ordem de comando para os ataques partiu do deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO).
“Esse cara está morando nos EUA e continua apoiando Moraes, atacando TRUMP e dizendo que os EUA agora é uma ditadura. Acho que vale a pena dar uma olhadinha nesse EXTREMISTA”, escreveu Gayer ao compartilhar em seu perfil no X (antigo Twitter), um link com a entrevista de Wagner Moura, marcando os perfis do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e de seu principal auxiliar, Christopher Landau.
Entenda
A ofensiva bolsonarista veio como reação desesperada após a condenação de Jair Bolsonaro a mais de 27 anos de prisão, e agora inclui ataques diretos a pessoas que ironizaram a morte de Charlie Kirk, além de artistas, influenciadores e jornalistas. Esse movimento aproveita a morte do extremista estadunidense como pretexto para pressionar instituições, pedir cancelamento de vistos e promover demissões — tudo numa lógica oportunista de agressão política.
Um exemplo recente é o do neurocirurgião Ricardo Barbosa, que usou as redes sociais para ironizar o assassinato de Charlie Kirk. A reação foi imediata: autoridades dos EUA determinaram a revogação de seu visto, a clínica onde trabalhava o demitiu e o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco abriu sindicância para investigar possíveis violações éticas.
Esses casos médicos se somam a outros já expostos: Felipe Neto, Casemiro Miguel, Eduardo Bueno e Wagner Moura. Todos eles tiveram seus nomes usados em campanhas de difamação e pressões institucionais: pedidos para empresas cancelarem contratos ou demitir, para universidades cancelarem eventos, e apelos para que autoridades dos EUA revoguem vistos de entrada.
A escalada revela o padrão: quando sua base e sua narrativa estão fragilizadas — como ocorre depois da condenação de Bolsonaro —, figuras da extrema direita recorrem à intimidação política, à vigilância pública e à mobilização de ataques nas redes sociais.