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Barroso fala pela primeira vez sobre seu voto que condenou Lula

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)Luís Roberto Barroso, afirmou que não se arrepende do voto dado em 2018 que permitiu a prisão do então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista à coluna de Mônica Bergamo, o ministro destacou que sua decisão seguiu a jurisprudência vigente à época e que não caberia mudar o entendimento apenas por se tratar de Lula.

“Vamos supor que eu tivesse votado no presidente Lula, que eu gostasse do presidente Lula. Eu sou um juiz. Eu deveria mudar a jurisprudência por querer bem ao réu? A vida de um juiz que procura exercer seu ofício com integridade e sem partidarismo exige decisões que são pessoalmente difíceis”, declarou.

Segundo o ministro, o entendimento firmado pelo Supremo em 2016 — por 7 votos a 4 — autorizava o início do cumprimento da pena após condenação em segunda instância, o que foi aplicado ao caso de Lula, já condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e com a decisão confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

“Portanto, eu apliquei ao presidente Lula, com dor no coração, a jurisprudência que eu tinha ajudado a criar”, afirmou.

Lava Jato e excessos

Barroso reconheceu que, com o tempo, a Operação Lava Jato se perdeu em “excessos” e em uma “obsessão pelo ex-presidente Lula”, apesar de considerar o início da investigação legítimo e fundamental no combate à corrupção.

“Ela revelou um país feio e desonesto. Mas, em algum momento, se perdeu nos excessos e terminou se politizando”, avaliou.

O ministro comparou a trajetória da operação a um equilibrista que, após tanto sucesso, passa a acreditar que pode “voar” — até cair.

Relação com Lula

Apesar do voto que resultou na prisão do petista, Barroso afirmou ter uma relação cordial com Lula e que nunca conversaram sobre o episódio. O reencontro entre os dois ocorreu na casa de Cristiano Zanin, hoje ministro do STF e ex-advogado de Lula.

“Tivemos uma conversa muito boa sobre o Brasil, que é a minha obsessão e a dele também. Foi uma conversa ótima, sem nenhum passivo emocional”, disse.

Admiração pessoal

Barroso também comentou a personalidade de Lula, a quem classificou como “agradável e carismático”, capaz de conquistar até quem inicialmente tinha restrições a ele. Ainda assim, destacou que sua função como magistrado exigiu separar apreciações pessoais de decisões jurídicas.