Ex-presidente afirmou que discutiu com chefes das Forças Armadas alternativas dentro da Constituição
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou em depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira (10) que tenha discutido planos para dar um golpe de Estado após a vitória de Lula (PT) na eleição presidencial de 2022, mas admitiu ter discutido com chefes das Forças Armadas alternativas, segundo ele, dentro da Constituição.
“Conforme falou o general Freire Gomes, talvez foi nessa reunião, nós estudamos possibilidades outras dentro da Constituição, ou seja, jamais saindo das quatro linhas. Como o próprio comandante [Freire Gomes] falou, tinha que ter muito cuidado com a questão jurídica porque não podíamos fazer nada fora disso”, disse Bolsonaro, sem detalhar qual era o objetivo das medidas estudadas com os militares.
O ex-presidente disse que, “em poucas reuniões, abandonamos qualquer possibilidade de uma ação constitucional”. “Abandonamos e enfrentamos o ocaso do nosso governo”, acrescentou.
Na segunda-feira (9), em depoimento ao STF, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid repetiu detalhes da apresentação de uma minuta de decreto golpista para o então presidente e das alterações feitas por ele para adequar o documento às intenções do grupo que ocupava o Palácio do Planalto.
“Ele enxugou o decreto”, disse Cid ao ministro Alexandre de Moraes, “retirando as autoridades das prisões só o senhor [ministro Alexandre de Moraes] ficaria preso”. “Não procede o enxugamento”, afirmou Bolsonaro a Moraes nesta terça.
O ex-presidente afirmou que o arquivo encontrado no celular de Mauro Cid “não tinha cabeçalho e nem fecho”, só os considerandos.
Em seguida, diante da pergunta sobre se tinha mostrado algum documento na reunião do dia 7 de dezembro ao general Freire Gomes, Bolsonaro não citou qualquer documento físico, mas disse que foi mostrado de modo rápido numa tela. “Foi passado na tela os considerandos de forma bastante rápida ali”, disse.
Mais adiante, questionado se teria discutido nas reuniões sobre uma intervenção no TSE e a instauração de uma comissão eleitoral, Bolsonaro disse que “gostaria de ter acesso ao documento para discuti-lo”.
Ao responder à pergunta de seu advogado quanto a se “alterou escreveu ou colocou no computador alguma minuta”, Bolsonaro disse que não.
O ex-presidente disse ao Supremo que passou a avaliar medidas com os chefes das Forças Armadas após o ministro Alexandre de Moraes, ainda no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), decretar uma multa de R$ 22 milhões ao Partido Liberal pela representação contra o resultado das eleições presidenciais.
“Essas reuniões que ocorreram foram em grande parte em função da decisão do TSE. Quando peticionamos sobre possíveis vulnerabilidade, no dia seguinte não foi acolhido e nos surpreendeu uma multa de R$ 22 milhões de reais. Se viesse a recorrer da multa ou da petição, poderia ser agravada. Decidimos então encerrar com o TSE qualquer discussão sobre resultado das eleições”, afirmou o ex-presidente.
Bolsonaro afirmou que convidou os chefes das Forças Armadas para discutir as “alternativas” porque tem a mesma formação militar deles. “Eu não tinha clima para convidar ninguém para qualquer assunto. Sobrou a eles, até como um desabafo —não entre nós, eu para com ele”, disse.
“Eu ouvi o Paulo Sérgio, ouvi o Freire Gomes, ouvi o Garnier e não pude ouvir muito o Baptista Júnior porque ele pouco falava. Ele nem leu a minuta que ele acusa, nem chegou a ler aquele assunto. O militar é aquele que está do seu lado nas horas boas e nas horas ruins. E eu confesso que muita coisa que eles falaram eu absorvi e chegou à conclusão rapidamente que não tinha mais o que fazer.”
Folha de São Paulo