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Brasil chega à COP30 planejando ser menos jogador e mais juiz em mundo conturbado

O Brasil chega nesta semana à COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas) planejando exercer um papel de líder no debate climático, mas querendo evitar ser visto como alguém interessado em um dos lados da discussão. O governo quer tirar de sua agenda discursos polarizadores e planeja demonstrar a imagem de um ator confiável em busca de consensos.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, orientou o corpo diplomático a evitar o tom reivindicatório nas discussões ambientais e a exercer, em vez disso, uma liderança moderada. O objetivo é desempenhar mais o papel de um juiz em busca de acordos do que o de um jogador com interesses isolados.

As diretrizes foram repassadas em reunião final de alinhamento no mês passado, após o diagnóstico de que os acordos ambientais na área climática estão estacionados nos últimos dois anos. A paralisia é observada não por falta de engajamento, mas pela dificuldade de conciliar interesses diversos no cenário internacional —principalmente nos temas ligados a financiamento.

O cenário é ainda mais desafiador quando considerado o contexto global conturbado, com a recusa dos Estados Unidos de participar da COP30 e os conflitos geopolíticos –que enfraquecem o debate climático nas diferentes agendas nacionais.

Para tentar destravar as discussões, o governo brasileiro quer assumir um papel facilitador, colocando textos de negociação sobre a mesa e promovendo soluções consensuais. O objetivo é aproximar países com interesses divergentes e garantir entendimentos técnicos, evitando discursos públicos que podem desagregar.

Um dos principais temas da COP30, por exemplo, é estabelecer em termos práticos como o mundo vai chegar a US$ 1,3 trilhão (cerca de R$ 6,9 trilhões) em financiamento climático até 2035. Um entendimento nesse sentido tem sido desafiador porque países desenvolvidos resistem à elaboração de novos mecanismos financeiros.

Mesmo tendo essas e outras prioridades, o Itamaraty quer evitar um discurso acusatório de demanda por recursos dos países ricos. Mesmo a narrativa de vulnerabilidade e equidade de certas economias deve ser usada com cuidado, para evitar interpretações de busca por dinheiro.

Entre os temas prioritários da presidência brasileira está a adaptação climática, valorizada pelo potencial de financiamento internacional e pela promoção de cooperação no chamado Sul Global. Além disso, quer avançar na agenda da justiça climática com atenção a comunidades vulneráveis e povos afrodescendentes.

No plano de articulação internacional, países latino-americanos estão no topo das prioridades. Com o distanciamento da Argentina, países como a Colômbia podem ocupar um papel de maior proximidade.

Além disso, Egito e África do Sul são apontados como parceiros estratégicos e fundamentais para os objetivos traçados. O primeiro é considerado um coordenador experiente para negociações complexas e o segundo alinhado com discursos da América do Sul.

A COP30 tem 191 países credenciados. A cúpula de líderes, que antecede as discussões entre os técnicos, começa na quinta-feira (6).

Conforme mostrou a Folha, pretendem ir a Belém três chefes de Estado ou de governo estrangeiros: Friedrich Merz (Alemanha), Emmanuel Macron (França) e Keir Starmer (Reino Unido). Outros líderes que pretendem estar em Belém são os presidentes do Conselho Europeu, António Costa, e da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen.

O tamanho do evento contrasta com resultados que eram esperados até mesmo antes da COP. Por exemplo, há expectativa de que pelo menos cem países ainda entreguem suas metas voluntárias de redução de emissões de gases do efeito estufa antes do evento.

Mas apenas 64 dos 197 países que fazem parte da convenção do clima da ONU entregaram suas novas NDCs (contribuições nacionalmente determinadas) dentro do prazo. O limite para apresentar os compromissos, que teriam vigência até 2035, venceu em fevereiro deste ano e foi prorrogado até setembro.

folha de São Paulo