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‘É preciso muito mais que isso’: Fátima Bernardes se revolta com autoridades após operação com 132 mortos no Rio

Fátima Bernardesuma das jornalistas mais respeitadas do país, usou suas redes sociais nesta quarta-feira (29) para comentar a megaoperação policial que deixou 132 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro.

A ação, batizada de Operação Contenção, reuniu cerca de 2.500 agentes das polícias Civil e Militar e se tornou a mais letal da história do estado, segundo dados da Defensoria Pública.

Em um texto publicado no Instagram, Fátima fez um desabafo sobre a tragédia e direcionou sua crítica não às forças de segurança, mas às autoridades públicas responsáveis por pensar o “depois”, quando os tiros cessam, mas o medo continua.

“Tô desde ontem muito impactada com o que estamos vivendo no Rio. Mas não vou analisar aqui a ação das forças policiais, tem muita gente já fazendo isso. Eu só gostaria de saber qual o plano das autoridades pros complexos do Alemão e da Penha?”, escreveu a apresentadora.

‘Qual o plano das autoridades?’

Fátima prosseguiu com uma reflexão que, para muitos seguidores, traduziu a sensação de impotência diante da violência crônica no Rio de Janeiro. “De que maneira, já a partir de amanhã, a vida dos moradores dessa e de outras regiões da cidade vai melhorar? Nós vimos a ocupação do Alemão em 2010 sem nenhuma morte. Parecia que a região seria pacificada, mas o poder público falhou e a criminalidade se restabeleceu ali rapidamente”, disse.

Ao relembrar a ocupação de 2010 – quando tanques do Exército entraram na comunidade do Alemão em uma das ações mais emblemáticas da época -, a jornalista destacou que o problema nunca foi apenas policial: “Alguém acredita que apenas essa operação vai resolver o domínio das facções no Rio, da violência e da falta de segurança e esperança das pessoas de bem que vivem ali? É preciso muito mais que isso. Que triste”.

Tragédia sem precedentes

A declaração de Fátima foi publicada um dia após o início da Operação Contenção, que começou na madrugada de terça (28). Segundo as forças de segurança, o objetivo era cumprir 100 mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho, apreender armas e prender lideranças da facção.

O saldo oficial, confirmado pela Defensoria Pública, foi de 132 mortos (128 civis e quatro policiais) e 81 presos. Durante a madrugada de quarta (29), moradores relataram à imprensa que mais de 60 corpos foram retirados de áreas de mata no Complexo da Penha e levados para a Praça São Lucas, em cenas que chocaram o país.

As imagens e relatos reacenderam o debate sobre abusos nas operações policiais em favelas, o impacto sobre moradores inocentes e o silêncio de autoridades diante do número de vítimas.

Repercussão nas redes

O posicionamento de Fátima dividiu opiniões. Enquanto parte dos seguidores elogiou a jornalista por levantar um debate mais amplo sobre o papel do Estado nas comunidades, outros criticaram o tom da publicação. “Obrigado, Fátima!”, comentou o ator Lucas Leto. 

Já outro perfil rebateu com dureza, como se somente a vida dos policiais importasse: “Não adianta moradores tentarem mascarar a verdade. Deixarem mortos de cuecas para causar comoção. Da operação de ontem, lamento profundamente por apenas 4 vidas”. 

Outros internautas defenderam o ponto de vista de Fátima: “As pessoas que estão aplaudindo somente os policiais, sinto muito dizer: mas vocês estão mortos também”. Nos comentários, também houve quem a acusasse de “viver em outro mundo” e quem reforçasse o medo cotidiano da violência urbana. 

Sem recorrer a discursos inflamados, Fátima Bernardes fez o que sempre a destacou no jornalismo: colocou o foco nas perguntas que o poder público ainda não respondeu. Ao relembrar promessas antigas de pacificação e o fracasso do Estado em manter presença social nas favelas, a apresentadora expôs, com elegância e firmeza, a ferida que o Rio insiste em não curar.