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Lula convoca ministros para reunião de emergência após tarifaço de Trump

Presidente chamou auxiliares para discutir extensão da decisão da Casa Branca e medidas para amenizar efeitos da sobretaxa

Como numa escalada militar clássica, a guerra entre Donald Trump e a família Bolsonaro contra o Brasil ganhou novo capítulo nesta quarta (30), com o americano abrindo sua caixa de ferramentas.

Ele o fez de forma modulada, ao menos à primeira vista que precisa ser detalhada e que visa proteger americanos, enfatizando mais o caráter de embate político do que o potencial estrago econômico ao deixar de fora diversos setores importantes do tarifaço que elevou a 50% a taxa geral a ser aplicada sobre importações brasileiras.

Isso tende a ser vendido como uma vitória do governo Lula (PT), ainda que seja mais uma concessão à racionalidade: o Brasil é deficitário na relação comercial com os Estados Unidos. Ainda há alguém pensando em Washington, mas é preciso cautela, dado que o contexto é mais amplo.

Ele foi explicitado não só na inclusão da fantasia de que Jair Bolsonaro (PL) é vítima de uma perseguição política nas justificativas do tarifaço, mas principalmente ao aplicar a Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes —no limite, o ministro do Supremo poderá perder acesso a operações bancárias mesmo no Brasil pela acusação de caça às bruxas contra o ex-presidente.

Mas a vida financeira do magistrado que julga a trama golpista é detalhe. Trump prova que, em sua guerra comercial contra o mundo, o Brasil virou um exemplo a ser exibido, e isso pode evoluir para embates diversos.

Trump é assim bem-sucedido e apresenta um presente de grego para o ex-presidente. Na visão do americano, Supremo e Planalto são a mesma coisa, e o fato de que Lula eleva o tom quando o alvo é Moraes acaba dando gás à tática. Mesmo a tornozeleira eletrônica de Bolsonaro entra na conta.

Claro que isso é ruim para o ex-presidente, que vai ganhando a fama de traidor da pátria ao lado de seu filho Eduardo, exilado nos EUA para municiar o trumpismo contra Moraes. É inútil também judicialmente, em especial quando se conhece a disposição do ministro do STF quando atacado.

O problema é que isso cria um ciclo difícil para o Brasil acompanhar. Lula poderá celebrar agora, mas o arsenal brasileiro na briga é limitado.

Nesse sentido, a leitura de que o tarifaço saiu barato por ora, após a multiplicação de previsões pessimistas no setor produtivo e no mercado, poderá fazer o petista reduzir o fogo contra Trump.

Talvez seja sábio, dada que a disposição belicistas do americano vinha reforçada pelo sucesso que teve na negociação com a União Europeia, que para horror dos franceses preferiu entregar anéis a perder dedos, assim como fizera antes o Japão.

O Brasil é peso-pena nesse ringue, e é bom lembrar que há uma investigação comercial ampla aberta. Medidas punitivas arbitrárias, até embargos de produtos militares, não podem ser descartados.

Sobrou até para a então cortejada Índia, vista como um mercado aliado na Guerra Fria 2.0 entre Washington e Pequim. Trump resolveu adicionar uma punição extra, política, no pacote de tarifas de 25% a Nova Déli.

O motivo? O apoio indireto dos indianos à guerra de Vladimir Putin na Ucrânia. Com as sanções ocidentais e os descontos dados por Moscou, o país asiático passou a ser o segundo maior comprador de petróleo dos russos —de dezembro de 2022 a junho deste ano, 38% do produto foi para lá, só ficando atrás dos 47% que foram para a China.

Trump vinha se alinhando a Putin, mas mudou de ideia e deu até 8 de agosto para ele cessar a guerra, uma quimera. A partir dali, o resto do Brics, Brasil no bolo, e mesmo aliados como a Turquia deverão provar das tarifas políticas do americano, segundo a promessa de taxar ainda mais quem fizer negócio com Moscou.

A eficácia disso para demover o Kremlin de bombardear Kiev é duvidosa: a Rússia já sobreviveu ao pior das sanções até aqui. Até aqui, Xi Jinping disse que a China segue com os russos, ciente do peso da interdependência de seu país com o de Trump.

É uma novela que parece estar longe de terminar, mas por ora Lula respira um pouco, diferentemente do bolsonarismo e da direita em seu entorno.