Ministra contraria interesse de Lula e se coloca contra extração de petróleo na região
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou nesta segunda-feira (22) que destruir um “presente de Deus” é uma “ingratidão com o criador”. Ela destacou ainda que “pessoas mais vulneráveis” são vítimas das “piores consequências dos nossos atos”, além de relembrar o compromisso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria assumido de proteger o Ibama e os indígenas. Marina fez as declarações após o petista sinalizar que pode contrariá-la no projeto de exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas.
A ministra participou da mesa de abertura da Semana Laudato Si, um evento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que se iniciou na manhã desta segunda-feira em Brasília. Marina replicou trechos do discurso no Twitter.
– Se a gente destrói o presente de Deus, é uma ingratidão com o criador. É muita contradição dizer que ama o criador e desrespeitar a criação, dizer que ama o criador e destruir a criação – escreveu Marina, sem citar a disputa protagonizada por ela e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que apoia o projeto da Petrobras na Região Norte.
No Japão, onde participou como convidado da cúpula do G-7, o presidente indicou que a discussão não está fechada.
– Se extrair petróleo na foz do Amazonas, que é a 530 quilômetros, em alto-mar, se explorar esse petróleo tiver problema para a Amazônia, certamente não será explorado. Mas eu acho difícil (não poder explorar), porque é a 530 quilômetros de distância da Amazônia, sabe? – disse o presidente a jornalistas em Hiroshima.
– Que bom que temos o papa Francisco, que tem uma preocupação especial em amar o criador, traduzindo também esse amor em respeito e cuidado pela sua criação – complementou Marina, que é evangélica e participou do evento católico.
– É muita contradição dizer que ama o criador e estar mais preocupado em ganhar dinheiro com a criação do que em cuidar deste jardim, que Ele nos colocou para cultivar e guardar – disse Marina aos bispos.
Em outra postagem, a ministra marcou o perfil do presidente no Twitter para abordar a atuação do Ibama, que, na semana passada, se posicionou de forma contrária à proposta da Petrobras, que vai recorrer do parecer.
– O presidente Lula assumiu o compromisso de que vamos expulsar os criminosos das terras indígenas. Não está sendo fácil, só a base do Ibama já foi atacada cinco vezes por criminosos! Levando tiro, junto com a PRF e a Polícia Federal – escreveu a ministra, mais uma vez sem citar o impasse sobre o projeto na foz do Amazonas.
A publicação em que o perfil do presidente foi marcado foi compartilhada pelo líder do PT na Câmara, o deputado federal José Guimarães (CE).
Em outro momento do discurso, Marina falou sobre a vulnerabilidade dos mais pobres às consequências das alterações ambientais.
– Quem são as pessoas mais atingidas pelas mudanças climáticas? São as pessoas mais pobres. Em São Sebastião, quem foi soterrado? Foram as pessoas mais pobres. É sobre as pessoas mais vulneráveis que recaem as piores consequências dos nossos atos.
A ministra usou como exemplo o desastre do litoral norte de São Paulo, de fevereiro deste ano. Fortes chuvas causaram deslizamentos de terra nas cidades de São Sebastião, Ilhabela, Ubatuba e Bertioga, deixando 48 mortos e milhares de pessoas desalojadas.
Na última quarta-feira (17), o Ibama indeferiu um pedido da Petrobras para explorar jazidas de petróleo na foz do Rio Amazonas, a pouco mais de 500 quilômetros da costa do norte do País. A empresa disse que recebeu “com surpresa” a notícia e que irá recorrer administrativamente da decisão.
Na esfera política, a decisão do órgão, que é subordinado ao ministério de Marina Silva, foi alvo de críticas pelo senador Randolfe Rodrigues A(P), que anunciou em seguida que estava se desfiliando da Rede Sustentabilidade, partido ao qual a ministra pertence. O projeto é de interesse do estado do senador.
Dois dias antes, Silveira, ministro de Minas e Energia, defendeu a concessão do licenciamento para a Petrobras e disse que o pretexto de um “pseudorrisco” não poderia impedir a prospecção para que se tenha “conhecimento científico das potencialidades e riquezas naturais”.
*AE