O colunista Merval Pereira, do jornal O Globo, afirma que a única saída para o ministro Alexandre de Moraes diante das denúncias envolvendo o caso do Banco Master é apresentar provas cabais de que as acusações não são verdadeiras. Segundo ele, a sucessão de revelações sobre pressões institucionais, relações privadas e decisões judiciais transformou o episódio em uma grave crise política e jurídica.
Em artigo publicado em seu blog, Merval sustenta que a liquidação do Banco Master “ganha contornos cada vez mais graves”, envolvendo diferentes setores da administração pública e revelando como o lobby sem regulamentação “envenena por dentro o governo”. Para o colunista, o Supremo Tribunal Federal é a instituição mais afetada, justamente pela insegurança jurídica provocada por atitudes individuais de seus ministros.
O texto destaca que o ex-controlador do banco, Daniel Vorcaro, atualmente utilizando tornozeleira eletrônica, “exibe sua influência” à medida que novos desdobramentos vêm à tona. Um dos pontos centrais da controvérsia é a revelação feita por Malu Gaspar de que Alexandre de Moraes teria se encontrado com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para tratar de interesses do Banco Master, além de ter feito outros três contatos telefônicos com o chefe da autoridade monetária.
Merval classifica como “muito grave” essa revelação e afirma que, a cada novo episódio envolvendo interesses privados e decisões do STF, a Corte perde credibilidade e o país mergulha ainda mais na insegurança jurídica. Ele lembra que, anteriormente, Malu Gaspar já havia revelado que Viviane Barci de Moraes, advogada e esposa do ministro, mantinha um contrato com o Banco Master no valor de R$ 3,6 milhões por mês, o que, segundo o colunista, “por si só levanta dúvidas sobre o comportamento pessoal de ministros que tratam do caso”.
O artigo também recorda que, em 2023, o STF decidiu alterar o Código da Magistratura para permitir que juízes julguem processos envolvendo partes que sejam clientes de escritórios de advocacia de parentes até o terceiro grau. À época, a decisão gerou forte repercussão negativa. Para Merval, as revelações atuais “dão razão aos críticos da medida”, pois transformam o Supremo em objeto permanente de desconfiança.
Outro episódio citado envolve o ministro Dias Toffoli, que teria avocado para si o processo do Banco Master dias após viajar em um jato particular na companhia, entre outros, de um advogado ligado a um executivo do banco. A decisão foi acompanhada da decretação de sigilo, o que, segundo o colunista, apenas ampliou a desconfiança. Mesmo diante da versão oficial de que o assunto tratado na viagem teria sido futebol, “e não o caso”, Merval afirma que o episódio reforça a percepção de conflito de interesses.
Ações do TCU
O caso avançou ainda para o Tribunal de Contas da União (TCU), que decidiu interferir na decisão do Banco Central de liquidar o Banco Master. O ministro Jhonatan de Jesus classificou a medida como “precipitada” e deu prazo de 72 horas para explicações. Técnicos do Banco Central, segundo o artigo, relatam sofrer pressões externas, o que levou Gabriel Galípolo a afirmar que todos os passos do processo foram gravados e documentados.
Para Merval Pereira, o fato de Alexandre de Moraes não negar oficialmente que sua esposa tenha recebido valores milionários do banco ao mesmo tempo em que se reuniu com o presidente do Banco Central “para trabalhar a favor do Master” transforma o episódio em uma crise política, com potencial de gerar um pedido de impeachment por parte da oposição. O colunista observa que, se antes os sinais indicavam um movimento essencialmente político, agora “os fatos são graves e exigem uma declaração formal dos ministros envolvidos”.
Ao concluir, Merval recorre à máxima que dá título ao artigo original: “aos juízes, como à mulher de César, não basta ser honestos, precisam parecer honestos aos olhos e ouvidos da opinião pública”. Segundo ele, se os ministros — especialmente Alexandre de Moraes — dispõem de provas de que as denúncias não são verdadeiras, “precisam fazê-lo de maneira cabal”, sob pena de aprofundar ainda mais a crise de confiança no Supremo Tribunal Federal.