A decisão de William Bonner de deixar o comando do “Jornal Nacional”, em novembro deste ano, reforça uma mudança perceptível na estratégia da Globo, avalia Daniel Castro, do Notícias da TV. Após anos de embates com o governo de Jair Bolsonaro (PL), a emissora parece estar focando na recuperação do público conservador, que, nos últimos anos, criticou a rede, apelidando-a de “Globo Lixo”. Essa reviravolta reflete a busca por reconectar-se com uma audiência mais alinhada à direita, que se afastou dos meios tradicionais de comunicação.
Em agosto, a demissão de Daniela Lima da GloboNews, menos de dois anos após sua contratação vinda da CNN Brasil, simbolizou essa virada. A jornalista, assim como Bonner, é alvo de críticas ferozes da extrema-direita nas redes sociais, o que ajudou a intensificar a percepção de que a GloboNews estaria se alinhando à esquerda. Essa demissão, somada a mudanças internas, como a exibição no Fantástico de uma pesquisa encomendada pela Quaest, reflete uma estratégia em busca de um público mais conservador.
O estudo “Brasil no Espelho”, apresentado pela emissora, revelou dados sobre a população brasileira que apontam uma maior adesão a valores tradicionais, como a religiosidade (96% afirmam acreditar em Deus) e um apoio à família como pilar fundamental da sociedade. O estudo também indica que, em termos políticos, o brasileiro se posiciona majoritariamente no centro e centro-direita. Felipe Nunes, sócio da Quaest, resumiu o estudo afirmando que “a média do Brasil é, de fato, tradicional, mais conservadora, tanto nas questões econômicas quanto nas questões que envolvem valores”. Essa pesquisa tem orientado as novas produções e programas da emissora, incluindo a recente temporada da série Sons de São Paulo, dedicada à música religiosa, e outras iniciativas voltadas ao público de viés mais conservador.
Além disso, pesquisas internas revelaram uma percepção negativa de figuras como a GloboNews entre a audiência mais à direita. Um estudo qualitativo feito pela Quaest apontou que, entre empresários e profissionais autônomos, o canal era visto como distante da realidade do público conservador, sendo classificado de forma pejorativa, quase como uma figura elegante, mas vazia, sem vínculo com os valores tradicionais. Para tentar corrigir essa imagem, a Globo implementou programas como o GloboNews Debate, no qual a jornalista Julia Duailibi entrevista figuras de diferentes espectros políticos, tentando equilibrar a representação de ideologias antagônicas.
A mudança de Nilson Klava para Nova York e a saída antecipada de César Tralli para o “Jornal Nacional” também são vistas como parte dessa reestruturação. A ideia seria evitar que os jornalistas se associassem à GloboNews, cada vez mais percebida como uma emissora de esquerda, e prepará-los para uma cobertura mais neutra, sem a conotação de viés político.
O movimento da Globo parece ser uma tentativa de se aproximar novamente de um público que, nos últimos anos, a abandonou em favor de alternativas mais alinhadas com a direita política.
Nos bastidores, também especula-se que a mudança de foco seja uma estratégia para recuperar a audiência de classes mais conservadoras, como o público do agronegócio e dos evangélicos.