WASHINGTON – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a falar neste domingo, 2, em ações militares na Nigéria. No sábado, 1°, ele ameaçou uma intervenção no país africano sob a justificativa de que cristãos estão sendo assassinados em território nigeriano por terroristas islâmicos.
Questionado por um repórter da AFP a bordo do Air Force One sobre se contemplava o envio de tropas americanas à Nigéria ou ataques aéreos, Trump respondeu:
“Pode ser, quer dizer, muitas coisas; estou considerando muitas coisas”. “Estão matando cristãos, e estão matando em grandes quantidades. Não vamos permitir que isso aconteça”, acrescentou.
No sábado, o presidente republicano já tinha declarado ter ordenado ao Pentágono a planejar uma possível ação militar em território nigeriano. A justificativa dada por Trump é de que o governo local não está conseguindo conter a perseguição que os cristãos estão sofrendo no país.
Em um post nas redes sociais, o presidente americano ameaçou suspender “imediatamente” toda a ajuda à Nigéria se os supostos assassinatos não cessarem.
“Se o governo nigeriano continuar permitindo o assassinato de cristãos, os EUA suspenderão imediatamente toda assistência à Nigéria e poderão muito bem invadir aquele País, agora desonrado, ‘com armas em punho’ para eliminar completamente os terroristas islâmicos que estão cometendo essas atrocidades horríveis”, escreveu.
O alerta de Donald Trump surgiu depois de o presidente da Nigéria, Bola Ahmed Tinubu, rebater, neste sábado, o anúncio feito ontem, 31, pelo presidente americano de que estava designando o país da África Ocidental como “um país de preocupação especial” por supostamente não ter conseguido conter a perseguição aos cristãos .

Na sexta-feira, 31, Trump afirmou que “o cristianismo enfrenta uma ameaça existencial na Nigéria” e que “islamitas radicais são responsáveis ??por esse massacre”.
O comentário de Donald Trump surgiu semanas depois de o senador republicano Ted Cruz ter instado o Congresso a designar o País mais populoso da África como violador da liberdade religiosa, com alegações de “assassinato em massa de cristãos”.
Também no sábado, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Kimiebi Ebienfa, reiterou em um comunicado o compromisso da Nigéria em proteger os cidadãos de todas as religiões.
“O Governo Federal da Nigéria continuará a defender todos os cidadãos, independentemente de raça, credo ou religião. Assim como os Estados Unidos, a Nigéria não tem outra opção senão celebrar a diversidade que é a nossa maior força”, disse.
A religiosidade nigeriana
A população da Nigéria, de 220 milhões de habitantes, está dividida quase igualmente entre cristãos e muçulmanos.
O país enfrenta há muito tempo a insegurança proveniente de várias frentes, incluindo o grupo extremista Boko Haram, que busca impor sua interpretação radical da lei islâmica e também tem como alvo muçulmanos que considera não “suficientemente muçulmanos”.
Os ataques na Nigéria têm motivações variadas: há ataques com motivação religiosa, visando tanto cristãos quanto muçulmanos; confrontos entre agricultores e pastores por recursos cada vez mais escassos; rivalidades comunitárias; grupos separatistas; e conflitos étnicos.
Embora os cristãos estejam entre os alvos, especialistas avaliam que a maioria das vítimas de grupos armados são muçulmanos no norte da Nigéria, região de maioria muçulmana onde ocorre a maior parte dos ataques.
A Nigéria foi incluída pela primeira vez na lista de países de preocupação especial dos EUA em 2020, devido ao que o Departamento de Estado chamou de “violações sistemáticas da liberdade religiosa”./COM AFP